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23 de Abril de 2024
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    Especialistas pedem cautela em acordo com a Europa para receber refugiados sírios

    Publicado por Senado
    há 8 anos

    O governo brasileiro deve ser bastante cauteloso na negociação em curso com a União Europeia para receber refugiados da guerra civil na Síria. A recomendação foi feita por especialistas que participaram, nesta quinta-feira (31), de audiência pública sobre a situação política no Oriente Médio, promovida pela Comissão de Relações Exteriores e Defesa Nacional (CRE) e presidida pelo senador Aloysio Nunes Ferreira (PSDB-SP).

    Já foram concedidos pelo governo brasileiro cerca de 9 mil vistos a refugiados sírios. Mas apenas 2,5 mil se instalaram no país, segundo informou, no início da audiência, o subsecretário-geral político III do Ministério das Relações Exteriores, embaixador Fernando José Marroni de Abreu. A quantidade é pequena, quando comparada aos 600 mil refugiados que se encontram na Jordânia e aos 800 mil que estão no Líbano. Mesmo assim, preocupa os participantes da reunião a capacidade brasileira de receber esses refugiados.

    Na opinião da professora de História Árabe Arlene Elizabeth Clesha, da Universidade de São Paulo, o Brasil não deve receber sírios que já estejam em países como a Alemanha, mas sim aqueles que ainda não estão em território europeu. Caso contrário, alertou, o país corre o risco de apenas atender a um pedido feito pelas autoridades europeias.

    — Temos que receber refugiados que estão saindo da Jordânia, do Líbano e da Turquia. Imagine uma pessoa que atravessou o Mar Mediterrâneo em um bote inflado, chegou à Alemanha, não conseguiu ser integrada e acaba aceitando vir para o Brasil porque não tem nada melhor. Devemos dar prioridade aos que ainda não conseguiram chegar à Europa. O Brasil não deve fazer um acordo que seja conveniente apenas para a União Europeia, e não para nós — alertou Arlene.

    Preocupação semelhante foi demonstrada pelo professor Hussein Kalout, da Universidade de Harvard, nos Estados Unidos. Para o professor, brasileiro de origem libanesa e muçulmana, o Brasil já passou por um teste ao receber mais de 40 mil refugiados do Haiti, país que também enfrentou sérios problemas de instabilidade política. Em sua opinião, porém, a situação agora é bastante diferente, até pelo tipo de refugiados que seriam recebidos pelo Brasil.

    — O cara que vem do Haiti não é como o cara que vem da Síria. Os refugiados sírios são de uma classe média qualificada, com uma perspectiva diferente de inserção. O Brasil precisa ter um projeto claro de como fazer [essa inserção]. O acordo não pode ser para resolver problemas da Alemanha ou da Europa. Hoje eles precisam se livrar do problema, querem escoar os refugiados para o Brasil. Se o Brasil trouxer refugiados sem assistência de saúde, psicológica e educacional, vamos frustrar expectativas — ressaltou Kalout.

    Estrutura

    Autora do requerimento para a realização da audiência, a senadora Gleisi Hoffmann (PT-PR) admitiu que o Brasil precisa ter estrutura para receber os refugiados, mas lembrou, citando o caso dos refugiados haitianos, que nem sempre é possível montar essa estrutura a tempo. Ela informou que muitos sírios estão indo para o Paraná, onde será realizada, no dia 8, audiência pública conjunta das comissões de Direitos Humanos do Senado e da Assembleia Legislativa estadual para debater as melhores maneiras de auxiliar os refugiados da Síria.

    O senador Cristovam Buarque (PPS-DF) relatou visita que fez à fronteira da Turquia com a Síria, após lançamento de livro de sua autoria em Istambul. Ele observou que, ao contrário de outros países onde também existe o problema de refugiados, as pessoas com quem conversou na fronteira tinham bom nível de educação e, em alguns casos, falavam línguas estrangeiras como inglês ou francês.

    — Essas pessoas fugiam da guerra, não da pobreza. O problema ali é a guerra, não a pobreza.

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    Disponível em: https://www.jusbrasil.com.br/noticias/especialistas-pedem-cautela-em-acordo-com-a-europa-para-receber-refugiados-sirios/318102339

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